O voo de 40 minutos entre São Paulo e
Rio de Janeiro nunca pareceu tão demorado. Marcela estava ansiosa. Nos últimos
dez anos esperava por este momento com toda sua perseverança e força.
No
portão de desembarque é recebida pelo seu irmão mais velho. Desde a morte de
seus pais, Marci, era assim que ele a chamava desde pequeno, encontrou em
Vicente um apoio em tempos turbulentos. Após um longo abraço banhado em
lagrimas e sorrisos, Vicente segura o rosto de sua irmã não acreditando como
ela estava linda resplandecendo de felicidade.
-
Querido irmão posso pedir um favor?
-
Claro , hoje é o seu dia. Como te negaria alguma coisa?
-
Você poderia parar em meu lugar favorito antes de irmos para casa?
-
Sim , maninha.
Quando
estaciona o carro Vicente percebe que aquele momento é único e muito especial
para sua irmã ele sai do carro abre a porta e a deixa ir para aquele que seria
um encontro dramático mas envolto de poesia que só pode assistir quem é amante
da vida.
Marcela
fica descalça e com todo o cuidado, como estivesse pisando em vidro, segue em
direção ao som que em sua memória era como uma antiga e repetitiva melodia que
algumas vezes atingia seu auge em estrondos inquietantes. Sentiu medo, mas como
aprendera ela não parou diante de seus fantasmas, ao contrário o desafiou e já
se sentia vencedora. A brisa suave da manhã em seu rosto trazia consigo um
convite: “Sinta, viva, mergulhe, este é o momento.” Sem pensar duas vezes ela
corre e se lança em um mergulho profundo, sente seu corpo envolto pelas
águas revigorantes e misteriosas. Ao
emergir acontece o momento mais esperado e significativo dos últimos anos de
sua existência, ela podia enxergar,ver, olhar, mirar, fitar, contemplar a
imensidão azul do Mar de Copacabana.
Lembra-se
da perda da visão, o primeiro diagnóstico de uma doença degenerativa da córnea,
depois o tratamento sem apresentar resultados positivos, em seguida a indicação
para um transplante de córnea, a espera angustiosa da lista de transplante até
ser agraciada pela generosidade de um doador. A cirurgia, o risco de rejeição,
as medicações e por fim a notícia tão desejada a total recuperação da visão.
Por muitas vezes pensou estar lutando contra o inevitável mas naquele exato
momento ela entendeu que nada é impossível para quem crê e luta com
todo coração.
Autor: Katia R. Turri